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Por que juros bancários tão altos?



O spread bancário é a diferença entre os juros que os bancos pagam para as aplicações financeiras e o que eles cobram pelos empréstimos.

De acordo com dados do Banco Mundial, em 2017 o Brasil possuía o segundo maior spread do mundo (38,4 pontos percentuais), atrás apenas de Madagascar (45 p.p.) e bem à frente dos demais.

 

Por que um spread tão alto?

Especialistas apontam a elevada inadimplência, as despesas administrativas, os tributos, os depósitos compulsórios, a dificuldade de recuperação de crédito dos inadimplentes e o alto grau de concentração bancária entre as principais causas.

Sobre esta última, costumam destacar o fato de que os cinco maiores bancos do país respondem por cerca de 80% das operações de crédito. Ante a baixa concorrência, as instituições financeiras teriam maior poder de mercado e, com isto, cobrariam taxas de juros maiores.

Há, porém, quem discorde, argumentando que na Holanda, por exemplo, embora a concentração bancária seja até maior do que no Brasil, o spread é muito menor.

Estudo recentemente divulgado pelo Banco Central (BC) vai ao encontro desta argumentação e mostra que o grau de concorrência no mercado de crédito explica apenas uma pequena parcela do spread bancário.

Para isto, o BC utilizou microdados com informações de operações de crédito em nível local e constatou uma fraca correlação entre concentração e spread. Em outras palavras, com pouca frequência os locais com elevada concentração eram também os que apresentavam os maiores spreads.

 

Esclarecida a questão?

Longe disso.

Isto porque, em economia, é muito difícil inferir a causalidade entre duas coisas. Os dados, muitas vezes, mostram apenas se e como as variáveis se relacionam, mas é difícil dizer o que efetivamente causa o quê.

Pelo estudo do BC, por exemplo, concentração bancária e spread não se mostraram duas variáveis muito correlacionadas. Muito se aproveitaram, então, para afirmar que, portanto, o problema dos spreads não estaria na elevada concentração bancária.

Elevados spreads, por outro lado, também poderiam atrair mais competidores, resultando em menor concentração exatamente nos locais onde os spreads são maiores.

 

Confuso?

Um exemplo muito comum utilizado nas aulas de estatística econômica para explicar a diferença de correlação e causalidade neste tipo de problema é a relação entre criminalidade e número de policiais.

Governantes tendem a alocar mais policiais em locais onde os índices de criminalidade são maiores. Ou seja, neste caso, haveria uma correlação positiva entre criminalidade e policiais, quando o esperado, em termos causais, seria exatamente o contrário –que o maior policiamento resultasse na redução do número de crimes.

Uma análise precipitada, portanto, ao identificar uma correlação positiva, poderia deduzir que o maior policiamento não é efetivo ou até que estaria causando maior criminalidade.

Da análise dos dados de spread bancário ao redor do mundo, encontramos outro exemplo curioso para ilustrar os perigos de se confundir correlação com causalidade.

Conforme é possível observar no gráfico abaixo, países que têm o português como idioma oficial (Brasil, São Tomé e Príncipe, Timor Leste, Moçambique, Angola e Cabo Verde) se destacam entre os que apresentam os maiores spreads bancários do mundo.

O problema, então, seria falar português? Para reduzir o spread, uma medida seria, quem sabe, mudar o nosso idioma oficial?

Outros poderiam apontar não o fato de que todos esses países falam português, mas o de que todos foram colonizados por Portugal.

Uns mais afoitos já poderiam teorizar a respeito da exploração colonial portuguesa, que teria gerado consequências sociais mais graves, como uma maior desigualdade de renda, por exemplo, do que a colonização espanhola ou inglesa, resultando na maior necessidade de empréstimos por parte de uma população mais pobre e menos instruída nestes países...

Os dados, porém, não negam nem confirmam nada disto, apenas apresentam uma curiosa correlação. Qualquer explicação para além disto, assim, é uma construção narrativa, muitas vezes movida por ideologias ou mesmo pela defesa de determinados interesses.

Fonte: Diário do Comércio - Jornal das Associações Comerciais do Estado de São Paulo

 
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