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CONTABILIDADE - ?Um contabilista é um profissional acima da média e nem sempre é visto dessa forma?



Em entrevista ao Jornal Económico, a bastonária da Ordem dos Contabilistas Certificados faz um balanço do mandato, dos principais desafios da profissão e da luta contra lóbis e interesses.

Em fevereiro do ano passado, Paula Franco foi eleita bastonária da Ordem dos Contabilistas Certificados (OCC) para o quadriénio 2018-2021, depois de ter visto a sua lista conquistar a maioria dos votos (52,2%), na segunda volta das eleições. Este resultado colocou Paula Franco à frente daquela que é uma das maiores Ordens profissional do país. Eugénio Faca lidera o Conselho Jurisdicional, enquanto Mário Guimarães está à frente do Conselho Fiscal. Paula Franco, 50 anos, é contabilista certificada e consultora fiscal. Foi assessora dos últimos dois bastonários da OCC, prestando apoio técnico no domínio da fiscalidade, contabilidade e segurança social.

 

Foi eleita bastonária da Ordem dos Contabilistas Certificados (OCC) para o quadriénio 2018-2021. Que balanço faz do seu mandato até ao momento?

Faço um balanço muito positivo. Tivemos grandes desafios neste mandato, nomeadamente com questões relacionadas com o SAF-T da contabilidade, o que implicou algumas mudanças em termos de procedimentos para todos os contabilistas. Sinto que a profissão está mais coesa e unida. A profissão está a crescer e a assumir aquilo que é a sua grande responsabilidade perante o País: sentir que as suas funções são importantes perante a sociedade e, portanto, está em crescimento. E, claramente, está a atingir um nível de maturidade que ainda não tinha atingido.

 

E que outros desafios destacam?

Nós temos um desafio enorme que é a passagem para a era digital. Esse é o nosso ponto forte. Mas temos três grandes objetivos neste mandato: melhorar a qualidade de vida dos contabilistas, fazer a passagem para a era digital, que é importantíssima, e dignificar a profissão.

 

Quando entrou na Ordem dos Contabilistas Certificados (OCC) como é que encontrou a profissão?

Encontrei uma profissão desunida. Aliás, a seguir a qualquer processo eleitoral isso normalmente acontece. E ainda está desunida porque somos uma profissão com muitos profissionais (71 mil), uma das maiores Ordens profissionais. E foi aí encontrei os maiores desafios: unir a profissão e dignificar os profissionais, começando pela dignificação deles próprios. Os próprios profissionais têm de se saber valorizar.

 

Na sua opinião, o que é preciso fazer para que a profissão de contabilista seja mais valorizada?

Acho que a Sociedade ainda não valoriza o contabilista como deve ser. O contabilista tem um papel importantíssimo nas empresas, que tem duas vertentes muito fortes. Primeiro, a vertente da contabilidade que dá a informação para a sustentabilidade do seu negócio e para aquilo que a empresa pode fazer a nível futuro. E a segurança a nível dos impostos e do tratamento de tudo o que tem a ver com as obrigações fiscais. E, por isso, o contabilista é uma mais-valia. Só que muitas empresas não dão valor aquilo que o contabilista lhes pode trazer. É um papel que tem de mudar, quer na Sociedade, quer no próprio contabilista. Um contabilista é um profissional acima da média, é um profissional com altas qualificações e que nem sempre é visto dessa forma.

 

Como é que podemos traçar o perfil deste universo de 71 mil contabilistas?

A média do contabilista normal situa-se entre os 40 e os 50 anos. Portanto, 45 é a média. Há mais mulheres do que homens. E só cerca de 31 mil é que exerce a profissão. Os outros são contabilistas certificados, não exercem a profissão, mas gostam de estar ligados à Ordem. Dos que exercem, os homens estão em maioria, apesar do número de inscritos serem maioritariamente mulheres.

 

 Hoje em dia é mais rigoroso entrar na profissão de contabilista?

A profissão do contabilista certificado como profissão regulamentada é recente, tem 23 anos. E isto significa que sendo uma profissão recente, não se exigia que tivessem determinadas competências que hoje em dia se exigem. Porém, no passado, os contabilistas para poderem exercer e assinar declarações fiscais tinham de se inscrever nas Finanças e, inclusivamente, fazer exames. Depois passou-se por um período em que ao passar para a Ordem – que entretanto foi Comissão Instaladora, Associação dos Técnicos Oficiais de Contas, Câmara dos Técnicos Oficiais de Contas, Ordem dos Técnicos Oficiais de Contas e agora é Ordem dos Contabilistas Certificados. Esta progressão trouxe uma maior capacitação de todos os profissionais naquilo que são as exigências que precisam de ter. Têm que ter um curso superior nesta área, licenciatura, mestrado ou doutoramento. E fazer um estágio que lhes dê valências na sua profissão e um exame à Ordem que é bastante exigente para comprovar se cumprem todos os requisitos que um profissional deve ter para ser um contabilista certificado.

 

Considera então que os economistas estão menos desavindos?

Já estamos melhor, mas ainda precisamos de fazer um grande papel nesta questão. As avenças dos contabilistas são baixas. E são baixas injustamente porque um contabilista é um profissional muito qualificado. Repare que um contabilista precisa de ter muitos conhecimentos de contabilidade e dentro daquilo que são as suas competências a nível fiscal: IRS, IRC, IVA, Património, Código das Sociedades Comerciais. Depois precisa também de entrar um bocadinho nas áreas do Direito por causa do processamento de salários. Portanto, precisa de conhecer o Direito Laboral, Código Contributivo, universo que diz respeito à Segurança Social. Que profissionais podem dizer que têm estes conhecimentos todos e têm de os aplicar em conjunto? O contabilista certificado é um profissional altamente qualificado, mas muito pouco reconhecido.

 

Antes de assumir o cargo disse que queria servir a Ordem e prometia lutar contra lóbis e interesses. Conseguiu cumprir esse objetivo?

Completamente. Hoje em dia não há interesses instalados na Ordem. Portanto, tudo o que foi feito, foi em função do contabilista. Aliás, das primeiras coisas que fizemos foi reduzir as remunerações dos Órgãos Sociais. E reduzimo-las ao pôr transparência nas contas na Ordem, sobretudo prestar contas trimestralmente a todos os membros para que saibam em que é que é gasto e, precisamente, lutar um pouco contra esses interesses instalados. Porque quando há transparência justificam-se os gastos e é isso que queremos fazer. Nós prestamos contas trimestralmente, onde identificamos todos os gastos dos Órgãos Sociais a título de remuneração para que seja tudo completamente transparente e escrutinado. Temos as contas abertas para poderem consultar quando quiserem. Pusemos as contas em dia porque quando aqui chegámos tínhamos as contas caucionadas e a Ordem estava com graves dificuldades económicas por causa de investimentos que tinha feito recentemente. Conseguimos equilibrar tudo isto. Hoje em dia, não temos contas caucionadas e estamos a viver com uma almofada financeira confortável para uma instituição destas.

 

Qual é o valor dessa almofada financeira?

Temos de ter sempre um a dois milhões de euros mensais de lado para aquilo que possa existir.

Fonte: Jornal Economico

 
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